Ciberativismo: engajamento ou julgamento?

Ciberativismo

Numa época em que várias empresas ainda ingressam com certa timidez e receio nas redes sociais – muitas, por incrível que pareça, ainda ponderando sobre a necessidade de fazê-lo, avaliando com desconfiança os impactos em seu marketing –, os perfis pessoais já formam um contingente virtual muito ativo, e nada acanhado.

Isso porque a Internet parece ter dado um novo sentido à liberdade de expressão, onde um sem-número de postagens egocêntricas irrelevantes dividem espaço com um novo tipo de atitude, o ciberativismo. Mas será todo ciberativismo uma demonstração de engajamento na defesa de causas nobres? Ou será que alguns (poucos e bons) posicionamentos acabam perdidos num mar de indiretas e julgamento?

Claro que o compartilhamento descomedido de opiniões não é exclusividade do Facebook, mas para fins de foco, vamos centralizar a reflexão nele.

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Virou rotina ver o feed abarrotado de discussões sobre religião, política, racismo, sexismo e por aí vai. E se teve algum acontecimento “polêmico”, importante (debate presidencial) ou não (paredão do BBB), pode ter certeza que vai ter pelo menos um textão na sua timeline. Nada disso é, em essência, negativo. Nada disso precisava ser.

Certamente estava mais do que na hora de mudar uma série de paradigmas, e isso não está em questão. O que está é que as pessoas parecem ter desaprendido a se comunicar umas com as outras. Ninguém se entende, e, ao mesmo tempo, todo mundo é especialista em tudo – e aqui cabe a gíria popularizada online: – só que não. Muitas pessoas não se dão ao trabalho de pesquisar uma só linha do assunto que discutem em cinco, dez, vinte linhas no Facebook. É evidente que daí não pode sair uma discussão sadia.

Quando o importante não é se entender ou se respeitar, mas ter a palavra final – ainda que às vezes os indivíduos estejam falando a mesmíssima coisa –, todo o propósito da troca de informações é perdido. Vira uma guerra, de onde só saem perdedores.

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Foto por PierreSelim / CC BY

E é desse mundo virtual, onde cada um parece defender mais a si mesmo (“eu estou certo, você está errado”) do que o motivo que gerou a discussão, de onde estão saindo muitas posturas superficialmente engajadas e verdadeiramente julgadoras. Quem já não viu (talvez até fez) um post de fulano dizendo que estava “limpando o Facebook das pessoas a favor de [insira aqui partido, pastor, etc]”. Claro, ignorar é a saída mais fácil. Mas fulano poderia ter feito isso sem publicar para o mundo. Em vez disso, escolheu a opção de alfinetar todos que se encaixassem no grupo, podendo ferir no processo, por exemplo, familiares que nunca postaram um ai sobre aquilo.

Então será que muitos dos textões e debates com os quais nos deparamos diariamente no Facebook ainda visam trazer a reflexão de causas importantes, ou viraram uma forma prepotente de cutucar as diferentes ideologias dos nossos amigos? O que está realmente sendo feito pelas causas tão ferozmente defendidas online? Afinal, adianta tanto falatório e pouca, ou nenhuma, ação?

É. Assim como as discussões no Facebook, esse texto não tem conclusão. Também não foi feito para apontar dedos, mesmo assim, sempre vale apontar um para nós mesmos.

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